A Barraca do Beijo 3: uma análise sobre a culpa nos relacionamentos


Por Kathléen Carneiro


Essa não é mais uma resenha convencional de um filme de romance adolescente. Contém spoiler, mas nada que te faça desistir de ver o filme.


A Barraca do beijo 3, filme lançado em agosto pela Netflix, veio para encerrar mais uma fase de romances adolescentes no streaming. A sequência traz de volta Elle (Joey King), Lee Flynn (Joel Courtney) e Noah Flynn (Jacob Elordi) que estrelam os outros dois filmes da saga. Elle é melhor amiga do Lee e namorada do Noah, irmão mais velho do Lee. Esse triângulo teve muitos dilemas que renderam problemas e confusões fundamentais para a construção das três longas-metragens da saga. Os filmes tiveram uma produção de sucesso que possibilitou a divulgação de obras bem-acabadas, com uma fotografia muito bonita e um enredo bem construído que segura o espectador até o final deixando um gostinho de quero mais.

A história do terceiro filme narra os dilemas do fim do ensino médio surgindo com as necessidades de se fazer escolhas. Elle, após ser aprovada em duas universidades, precisa decidir para qual irá estudar, sendo que Harvard é sinônimo de um futuro com o seu namorado, Noah, e Berkeley é o cumprimento de uma promessa de sempre estar ao lado de seu melhor amigo, Lee. A personagem central é colocada numa posição de decisão em que ela tem que escolher entre os irmãos Flynn, assim como no primeiro e no segundo filme. No primeiro filme da franquia, Elle precisa decidir se vive ou não a paixão que tem por Noah sabendo que ela tem uma regra com Lee de nunca ficar com o irmão de seu melhor amigo. Já no segundo filme, a personagem está insegura com o seu relacionamento e tendo que lidar com o novo relacionamento de seu amigo, aparecendo um terceiro elemento na trama, Marco (Taylor Perez).

Em toda a sequência, o enredo se baseia na perspectiva de Elle sobre os fatos considerando as suas dificuldades e limitações,enquanto uma adolescente cheia de indecisões. No entanto, se observamos bem as relações entre os personagens, perceberemos que o que movimenta a história é sempre a culpa por não conseguir atender as expectativas de uma ou outra pessoa. Elle é sempre colocada numa posição de responsabilidade por algo que nem sempre está ao seu alcance. No primeiro filme, ela se sente culpada por estar apaixonada pelo Noah, no segundo ela se sente culpada por se sentir insegura e solitária no seu relacionamento a distância e no terceiro ela se sente culpada por escolher seu relacionamento com o Noah e não com o Lee. Isso me permite afirmar que o fio condutor de todos os filmes é o mesmo e, apesar de não ser algo que todos percebam, essa teia de culpa me incomoda bastante e me leva a reflexão: até que ponto a culpa é o fio condutor das nossas relações?

Em A Barraca do Beijo 3, fica muito evidente como a personagem principal carrega a responsabilidade pelo sucesso dos seus relacionamentos. Constantemente, o melhor amigo dela, Lee, cobra sua presença em tudo o que eles fazem. A lista de regras que existem entre eles é sempre um motivo para um deles se chatear por algo que não foi cumprido. Nesse filme, o dilema é cumprir um dos principais itens da lista – ir para a faculdade juntos –, todavia, Elle escolhe ficar com o namorado, ou seja, conflito à vista. A garota é extremamente apaixonada pelo namorado, mas ele se mostra inseguro com a presença do Marco. Nessa insegurança, Noah fica constantemente responsabilizando Elle por seus sentimentos, já que, na perspectiva dele, a garota deveria dar o fora no cara sem ao menos ter tentado qualquer coisa com ela. Ainda que ela saiba que existe um interesse por parte de seu colega, ela não se sente responsável já que não tem compromisso nenhum com ele e sim com Noah.

A pressão e expectativa vinda de ambos os companheiros faz com que ela se sinta sobrecarregada e exausta. Não é pra menos, já que todo tempo ela tem que ficar fazendo manobras para agradar os dois, Lee e Noah. O fato é, quantas vezes nós não somos essa pessoa vigilante a cada palavra ou ação que é feita, já que qualquer coisa pode ofender ou prejudicar quem a gente gosta. Quantas vezes a gente deixa de ser quem somos ou fazer o que queremos para agradar alguém ou, simplesmente, impedir que ela vá embora? Já fomos submetidos a quantas situações em que tivemos que nos desdobrar para fazer dar certo e ainda nos sentimos culpados por não ter saído do nosso jeito? Quantas coisas já não fizemos mesmo sem querer por causa do sentimento de culpa?

Não darei spoiler sobre o fim do filme, mas uma coisa afirmo, a culpa é tão perigosa quanto o rancor e a mágoa. É uma semente podre que se plantada em terra boa, consome tudo o que está em volta. Apesar de a culpa estar sempre presente em nosso cotidiano, não podemos nos submeter e/ou permanecer em relações que são fundamentadas nesse sentimento, pois a tendência é que sejamos infelizes e vivamos cansados. A única cura possível seria o perdão, o perdoar a si mesmo Como Rupi Kaur bem disse em uma de suas obras mais populares, O que o sol faz com as flores, amor é saber que quando tiver que escolher alguém, será a si mesmo.


#KC<3

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