REDES SOCIAIS: UMA RELAÇÃO DE AMOR E ÓDIO


Por Kathléen Carneiro


Era meio-dia de 04 de outubro de 2021 quando as principais redes sociais do mundo pararam – Instagram, Whatsapp e Facebook –, sendo todas monopólio de uma única organização. Sem qualquer razão aparente, nenhuma mensagem conseguia ser enviada, não era possível fazer ou atualizar as publicações e, de repente, todo mundo ficou incomunicável. Assim como um término doloroso, os usuários dessas redes passaram por todo o processo de separação. 

A primeira reação quando tudo aconteceu foi a negação. Logo que o sistema parou, as pessoas começaram a reiniciar seus celulares e roteadores, e atualizar seus aplicativos como se não houvesse amanhã. Em casos como esse, as notícias se espalham tão rápido que passam até nos jornais. A entonação de acontecimento fatal cria uma atmosfera nacional, e até mundial, de desespero e crise. 

Conforme as pessoas vão tomando conhecimento da situação, surge a raiva. Não tem justificativa boa o suficiente que explique o que Zuckerberg fez a população mundial passar. O sentimento de revolta e indignação toma conta da comunidade usuária levando elas a usarem redes sociais alternativas. Consequentemente, os outros aplicativos começam a apresentar instabilidade por causa da demanda que é maior do que a que foi projetada para suportar. Essa migração emergencial faz com que Instagram, Whatsapp e Facebook se tornem os assuntos mais falados do momento em poucos minutos. 

Essa mudança de espaço permite que as pessoas se reconectem, ainda que de maneira meio desajeitada. Novos diálogos começam a surgir e juntos começam a reclamar e refletir o que podem fazer para mudar essa situação trazendo de volta o que lhes foi tirado. Ideias inusitadas e até absurdas começam a surgir, junto com teorias que buscam entender o que aconteceu de fato. Eis aqui o nosso terceiro momento, a barganha. A imagem que essas redes sociais levam consigo é muito marcada pelo seu criador, Mark Zuckerberg, e é em momentos como esse que as pessoas se sentem próximos desse homem para inventar possíveis diálogos sobre o caos. Isso pode durar horas, até que os ânimos vão se dissipando e trocando de lugar com a tristeza. 

De todos os sintomas, a tristeza intensa é o principal. Se pararmos para analisar as razões circunstanciais em que ela acontece, em casos de queda das redes sociais, me parece irônico os olhares pesados, as lamentações constantes e a preocupação com o retorno dessas comunidades. Frequentemente, se reclama das causas que levam alguém a mandar áudios de mais de um minuto, postarem fotos de suas felicidades excessivas ou corpos perfeitos, o crescimento da fila de conversas a serem respondidas que só fazem com que a sensação de obrigação e exaustão fiquem mais aguçados. Essas são somente algumas situações que deram aos usuários um momento de paz nesse dia. Um respiro diante das responsabilidades exigidas dia-a-dia pelas relações criadas nessas mídias. A questão é saber o motivo de tanta tristeza. A ironia mora no detalhe: aquilo que nos fere também nos faz sorrir.

Depois dessas fortes emoções, as pessoas começam a aceitar o inevitável, não há nada o que fazer a não ser esperar. Esse é o momento mais demorado, mas só é possível por causa de tudo que veio antes. Aceitar a realidade e ter a sensação de que está tudo bem apesar de tudo faz com que os usuários das redes sociais aquietem os ânimos e tirem proveito da situação continuando seus dias, rindo desses problemas e satirizando a realidade. No fim das contas, quando a situação se assenta num lugar confortável na mente de cada um se revelando menos problemático do que realmente é, tudo volta ao normal. A vida segue seu curso natural, a noite troca de lugar com o dia e, antes que se pense nas notificações recebidas freneticamente, as redes sociais voltam a funcionar trazendo uma enxurrada de conteúdos produzidos nos momentos de abstinência. Tudo isso em apenas sete horas.


#KC<3


Comentários

  1. Narração, descrição e reflexação perfeita daquela pane global nas mídias sociais. A sensação que fica é que o uso diário dessa mídias é quase que uma "necessidade básica".

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    1. Exatamente. Elas já fazem parte de nós. Nos tornamos cyborgues ou fyborgues.

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