Tem lugar pra mim nesse mundo?

Tem lugar pra mim nesse mundo?

Kathléen Carneiro

Tem dias que me pego pensando se os meus sonhos vão se realizar e uma das principais coisas que me vem a mente é: tem lugar pra mim nesse mundo? Já existem centenas de milhares de escritores - nem todos bons, mas não vamos entrar nesse mérito. Existem milhares de milhares de comunicadores e os ditos influenciadores - a qualidade de uma grande parte também é bem duvidosa. Nem se fala na quantidade de sonhadores que tem. São muitos! Ou seja, muita gente fazendo muita coisa ao mesmo tempo.

Tem espaço pra mim nesses números exorbitantes? Sinceramente, eu não sei. Não sei o que torna especial. Não sei o que me torna diferente. Não sei se tem algo em mim que me faria destacar. Eu não tenho nada de especial, diferente, inovador ou mágico. Quisera eu ser uma daquelas pessoas extremamente geniais que tem a capacidade de transformar tudo o que toca em algo grandioso e popular. Nesse momento você deve estar se perguntando o que eu quero, qual é o tão sonhado sonho. Talvez a minha resposta não seja nada do que você está esperando, mas vamos lá. Senta que vou te contar uma história.

Quando eu tinha meus sete, oito anos, decidi que queria ser famosa. Queria ser popular independente do que eu fizesse. Já queria ser escritora naquela época, mas queria ser outras coisas também: modelo, cozinheira, estilista, atriz e por aí vai. Carreguei esse desejo comigo, de ser uma pessoa conhecida, até os meus quinze anos, momento em que comecei a escrever com mais frequência e a publicar os meus textos no blog. Naquela epóca eu ainda sonhava com o estrelato, com os holofotes e convites especiais chegando. No entanto, a realidade era que eu não tinha a mínima noção do que eu queria fazer de fato, mas tinha uma única coisa que eu adorava fazer: escrever. Independente se era uma ou milhares de pessoas, as visualizações pararam de importar. Eu só queria torná-los públicos. Eu estava escrevendo simplesmente porque eu gostava - e olha que eu nem era tão boa assim naquela época. Hoje, aos vinte e cinco anos, voltei a esse momento: quero fazer uma coisa que eu gosto simplesmente porque eu gosto.

Muitas coisas aconteceram na minha vida desde aquela época. Estou descobrindo novos sonhos, novos desejos e traçando novos objetivos. Ano passado publiquei o meu primeiro livro, o Talvez Seja Simples, e foi lindo. Então, decidi aproveitar essa conquista e não escrever um novo livro esse ano. Tirei meu primeiro ano sabático literiamente falando. Isso não quer dizer que eu parei de escrever, pelo contrário, isso indica que eu quero aproveitar a minha escrita. Quero escrever despretenciosamente, sem buscar a aprovação de ninguém para os meus textos, meus trabalhos. Quero escrever para mim e se num segundo momento eu quiser compartilhar esses textos, compartilharei. Eu quero comolocar meus sentimentos e impressões do mundo no papel de maneira desordenada, não para passar numa prova ou ser aprovada num edital, mas para traduzir o meu caos interno. Quero escrever só por escrever mesmo. E nisso me veio a questão: desse jeito eu não vou perder espaço no mundo?

A sua resposta eu não sei, mas a minha é não. Enquanto, eu estiver aproveitando esse momento e relembrando o prazer da minha escrita diariamente, eu tenho o meu lugar no mundo. Esse é o meu mundo. Na mania de querer monetizar tudo, obter status pelo o que fazemos, perdemos o prazer nas mínimas coisas, coisas essas que quando começamos a fazer, amávamos. Que tal voltar a experimentar o fazer despretensioso e por puro prazer de alguma tarefa que hoje você faz por obrigação? Te convido a experimentar isso: faça algo por você e porque você gosta. Você merece ter o seu momento de satisfação pessoal. Isso é um luxo que você pode ter.

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