Spoiler: isso não é uma resenha - O peso do pássaro morto, de Aline Bei
Escrito por Kathléen Carneiro
Recentemente, li o livro O peso do pássaro morto escrito por Aline Bei e não consegui esquecer o livro por um motivo específico: a forma com que a morte é o pano de fundo da história. Se você já leu a obra, sabe do que estou falando. Se ainda não leu, vou tentar dar o mínimo de spoiler possível do livro, mas já aviso que isso é quase impossível.
Sinopse: A vida de uma mulher, dos 8 aos 52, desde as singelezas cotidianas até as tragédias que persistem, uma geração após a outra. Um livro denso e leve, violento e poético. É assim O peso do pássaro morto, romance de estreia de Aline Bei, onde acompanhamos uma mulher que, com todas as forças, tenta não coincidir apenas com a dor de que é feita.
O que muito chama a atenção na escrita de Aline é a forma poética com que ela constrói o romance. Seu texto tem uma estrutura muito única que lembra muito uma poesia concreta, mas cada palavra deixa bem claro que o objetivo é contar uma história profunda e sensível sobre a vida de uma mulher, ou seja, ainda é um romance, uma narrativa longa. Isso é muito marcante na obra, mas o que fez esse livro se tornar inesquecível pra mim foi a morte.
Às vezes, tratamos as crianças como se não fossem pessoas dotadas de sentimentos e emoções. Como se o único sentimento que elas podem e devem sentir é a alegria plena. No entanto, muitas das marcas e traumas que um adulto carrega em si são consequências de sua infância. Crianças também sabem como é a dor do luto, da perda, da saudade e da ausência. Elas também têm o direito de sentir a tristeza causada pela imperfeição da vida. Isso fica tão claro no livro quando a personagem principal sofre com a perda de duas pessoas que ama aos 8 anos de idade e vive a vida com a dor da falta de uma delas. Fiquei refletindo que no fim o tempo não apaga a dor.
Sendo quase a personagem principal, a morte aparece em vários momentos do textos de maneiras distintas. Em um momento como uma perda, em outra como um pedaço de carne, em outro como a falta de vida e também na ausência de um amigo. Esse último foi o mais marcante para mim, pois me fez perceber como a perda de alguém pode doer uma vida inteira. Talvez se a melhor amiga da personagem estivesse viva, será que as coisas seriam diferentes? E se o seu amigo não a tivesse deixado também? Fiquei pensando no impacto que a morte causa na vida daquela mulher e, consequentemente, o sofrimento provocado pela ausência de alguém em quem confiar.
Enfim, lido em dois dias devido a uma necessidade de saber como seria o fim dessa história, super recomendo a leitura. É muito profunda, brutal e sincera sobre a vida de uma pessoa que não é real, mas bem que poderia ser. (Inclusive, essa personagem me lembrou muitas pessoas reais.)
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