BOSSA NOVA: um tributo a todos os amores não vividos – parte IV

 

Música para os meus ouvidos

Kathléen Carneiro

Estou caminhando lado a lado com minha irmã quando ela aponta para o restaurante que estamos procurando. Minhas mãos começam a suar, meu raciocínio desacelera e meu coração dispara. A cada passo que dou, sinto os meus pés instáveis. A sensação de gelatina das minhas pernas me dá a impressão de que vou cair a qualquer instante. Não sei o que pensar ou como reagir, mas o descontrole dos meus sentidos piora gradativamente quando avistamos no fim do corredor a pessoa que viemos encontrar.

Luiz está sentado na última mesa encostado na parede e mexendo no celular. Quando minha irmã acena para ele, se levanta e ajeitando a roupa acena de volta. Vestindo uma blusa colorida listrada, uma calça bege dobrada até a canela, chinelos desgastados e uma bag preta, ele ainda usa os mesmos óculos redondos, só que agora os seus cabelos cacheados estão penteados em dreadlocks presos por um lenço alaranjado.  Percebo que chegamos perto o suficiente quando minha irmã o abraça dando um gritinho de animação. Permaneço imóvel até ela sair da frente e ele vir em minha direção com um sorriso no rosto. Ele troca a máscara de mão e, retribuindo o sorriso, me aproximo pronta para um abraço.

Já fazem algumas semanas que eu e Luiz trocamos mensagens. Não conversamos todos os dias, mas nunca encerramos uma conversa direito. Sempre continuamos rendendo papo ao longo da semana, porque ele leva dias para responder uma mensagem. Eu, trouxa, sempre respondo na hora. Até quando tento fazer doce, o máximo que demoro a respondê-lo é algumas horas. Ainda sim, desde o primeiro contato, não deixamos de nos falar. Trocamos ideias sobre nossos estudos, nossas famílias, sonhos, planos para o futuro, medos, inseguranças e muitos outros assuntos. Inclusive, diversas vezes comentamos nossa facilidade de contar as coisas um para o outro, de compartilhar nossas vidas com alguém que não conhecemos pessoalmente, até esse momento.

Sinto os braços de Luiz envolvendo minha cintura enquanto me dá um beijo no rosto. Meus braços passam pelos seus ombros e me aconchego no seu abraço. Tudo ao nosso redor some por alguns instantes até ele me soltar. Ele diz como é bom me conhecer pessoalmente e, gaguejando um pouco, respondo concordando. Guiando eu e minha irmã até uma mesa na área aberta do restaurante, nós três nos sentamos e ali ficamos conversamos amenidades. Inicialmente não consigo falar muitas coisas, pois estou ocupada demais ouvindo a melhor música que poderia tocar naquele lugar, o som da voz de Luiz. A forma e o tom com que suas palavras saem é como se fosse aquela música que a gente não se cansa nunca, nossa música preferida. Na verdade, sua voz somada ao seu estilo me parece uma canção perfeita de bossa nova: doce, suave e incansável. Essa é uma daquelas músicas que nos levam pra casa e, naquele momento, meu lar se chamava Luiz.

Continuação na próxima semana, dia 08 de abril de 2022.

#KC<3


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