BOSSA NOVA: um tributo a todos os amores não vividos – parte VI


Saudades de quem eu era antes de te conhecer

Kathléen Carneiro

Semanas se passaram desde o primeiro encontro com Luiz e ele nunca mais me respondeu. Sentada no terraço do meu trabalho, vejo o jogo de luzes e sons do universo narrando à dança das águas que caem do céu, a trilha sonora perfeita para os meus sentimentos. Pego o papel jogado sobre a mesa de granito a minha frente, a caneca apoiada na minha orelha e começo a escrever:

“Caro Luiz,

Espero que você esteja bem e com saúde. Gostaria de te contar mais coisas sobre mim, mas tudo o que vou falar agora é sobre o que sobrou de mim depois de você.

Cansada de esperar alguém que não posso ter, comecei uma nova saga: conhecer alguém por meio de aplicativo de relacionamento. Já devo ter baixado todos os mais conhecidos, mas o tempo máximo que fiquei em cada um deles foi uma semana. Conversei com alguns caras, mas ninguém era tão legal como você. Talvez não tenha dado certo, porque minha alma gêmea não está em nenhuma dessas redes. O fato de chamar uns de fake na primeira conversa por serem gatos demais ou de tarados por só quererem sexo casual ou não responder os menos afeiçoados não tem nada a ver com isso.

Tentando entender qual o problema comigo, descobri que o que me impediu de conhecer alguém foi você. Mesmo longe, sem responder minhas mensagens, sem ter mais um rolê delicioso com você, tudo o que eu vejo me faz lembrar você. A música que toca toda vez que você fala, os seus movimentos quando você cruza as pernas da maneira mais natural possível, até o toque desinteressado no cabelo quando você está no mundo da lua. Eu não vou encontrar alguém nesses aplicativos enquanto acreditar que quem eu procuro é você. Você pode não achar o mesmo, mas foi você quem eu esperei todo esse tempo, só que te encontrei tarde demais.

A última vez que eu amei alguém sofri pra cachorro. Não podíamos estar juntos, porque a distância entre nós era mais do que a geografia, era real. Estávamos em uma ponte, mas nenhum de nós podia, queria ou conseguia atravessar a ponte (use o verbo que achar melhor!). Ele tinha uma razão para não vir até mim e fazia dela a razão para eu não ir até ele. O fato é que sinto o mesmo com você. Um amor que eu daria tudo para viver. A diferença é o tamanho da nossa ponte e a razão para permanecermos imóveis é a mesma. Você é feliz com ela ao seu lado e eu sou feliz do meu.

Apesar disso, tem dias que eu desejo que chova tão forte que as águas que nos separam transbordem e nos faça boiar de encontro um ao outro. Assim como a chuva é inevitável, é impossível olhar para ela e não pensar em você. Talvez esse seja o meu destino: estar sempre do lado inalcançável da ponte. Minha maldição é te ver e não te ter, ainda sim eu te quero sem você saber. Tenho saudades de quem eu era antes de te conhecer.

A minha música de bossa nova preferida, todo meu amor. Que o destino nos una assim que possível!”

FIM

#KC<3

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