CINCO HORAS

CINCO HORAS

Kathléen Carneiro

    Uma das piores noites pra mim são as que eu acordo com a mesma sensação com que dormi: tristeza. A expectativa frustrada toma conta de mim quando percebo que o repouso forçado que levaria consigo toda a tristeza que me assolava vem ainda pior. Após lágrimas incontidas que escorriam pelo meu rosto, sinto ainda mais o descontrole de sua queda. O cansaço da rotina, o peso da expectativa, a angústia de poder ter feito mais e a dor de não ter feito. Com a alma inquieta e a cabeça pensante, pra não dizer frustrada, me arrisco a abrir os olhos. Me sinto tomada pela noite e o seu peso me conforta, me sufoca. Talvez assim a dor em meu peito cesse, ainda que por alguns instantes. 

    No costume da madrugada, oro por misericórdia, peço por alívio. O que resta? Estou só. Quando eu era criança, o escuro me assombrava. Não vou mentir e dizer que estou imune ao medo, porque se fosse qualquer outra madrugada, abrir os olhos me pareceria uma situação de risco. Ainda sim, hoje, eu o faço. Temia que a noite escondesse em si algo que pudesse refletir meu medo. Aparentemente acertei, pois de olhos abertos sinto meus fracassos no alcance das mãos. Meu temor não se compara ao meu sofrimento. Hoje nem o peso da madrugada é páreo pro peso da minha alma. Quando o medo de escuro se torna menor do que a minha dor, percebo que ela é maior do que eu imaginava.

    Tudo que eu espero agora é o amanhecer. Por mais que eu saiba que tudo vai ficar bem, me parece inconcebível acreditar nisso baseado na dor em meu peito e na minha falta de sono. Nada me tira o sono. Quem sabe a luz do dia não tenha efeitos mais positivos que a noite. Quem sabe o fim dessa escuridão não leve consigo os quilos a mais que me pesam o peito. Quem sabe a rotina do dia-a-dia não adormeça o que eu insisto em manter acordado em mim.  Parece uma noite sem fim e o problema maior é que essa noite pode passar, mas outra sempre virá. Espero que venha com mais leveza. Nunca quis tanto que o medo do escuro fosse maior do que a minha necessidade de estar comigo mesma.


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