Minha intuição não fala, ela grita

Minha intuição não fala, ela grita

Kathléen Carneiro

    Você já teve um pressentimento de que algo não estava certo ou que iria acontecer? Ou aquela sensação estranha de que você não deveria ir a algum lugar quando já está pronta para sair? Ou melhor, a bendita sensação de que tem alguém interessado no seu par e a pessoa diz que é só amizade? Tudo isso vem da mesma fonte: intuição. Saber de alguma coisa sem que seja necessário que alguém te conte. É o conhecimento claro, direto ou imediato da verdade a partir da interpretação de detalhes. Se são sinais do universo não sabemos, mas que funciona é inegável.
    A minha intuição não falha e todas as vezes que insisto em fazer o contrário do que ela me diz, me arrependo. Lembro-me de quando eu era adolescente e estava gostando de um garoto. A gente já se conhecia há algum tempo e já havíamos nos declarado um para o outro. A paixão era certa, por isso, fazíamos questão de deixar isso claro para todos os nossos amigos. Um dia, uma garota nova começou a participar do nosso grupo. Pessoas novas sempre chamam a atenção, mas isso não seria um problema se ela não começasse a jogar os cabelos pro meu quase namoradinho toda vez que eles conversavam. Na primeira vez que vi essa cena, cabelos balançando a cada risada de uma piada inexistente, meu sexto sentido já ativou o alerta.
    Claro que na primeira oportunidade, falei com o menino sobre o que achava que estava acontecendo e recebi o mesmo discurso: “Que nada”, “É só amizade”, “Você está vendo coisas”. Eu estava vendo mais do que coisas, eu estava vendo um letreiro piscando com a verdade dos fatos. Quando falamos para as pessoas de nossos pressentimentos, muitas vezes somos chamadas de loucas. Já que estamos acostumadas a ser taxadas de loucas, que sejamos essa pessoa, mas com a convicção de que temos razão. Isso é outro fato, se é intuição, sempre temos razão. Ou quase sempre. E naquela situação não foi diferente: eu estava certa sobre as intenções da nossa nova colega.
    Ficamos juntos mais alguns meses até que a paixão passou. Aproveitamos o máximo possível daquele sentimento e, no momento certo, ele se foi. Não era amor, mas foi ai que a razão me encontrou. Semanas depois, eu estava saindo de casa em um domingo de manhã e quando cheguei à entrada do prédio, o encontrei de mãos dadas com a nossa coleguinha que só queria amizade (morávamos no mesmo prédio: ele no andar de cima, eu no debaixo e a avó dele no térreo). Ele deu aquele sorriso amarelo e cumprimentei-os com toda simpatia do mundo. Quando passei por ela e só ele conseguia me ver, disse baixinho: eu te avisei. Seu rosto ficou imediatamente vermelho e eu segui meu caminho. Desde então, aprendi que a intuição funciona e é certeira. Não somos loucas ou sensitivas, só sabemos ler gestos, expressões e energias. Nem sempre precisamos de palavras ditas para interpretar uma situação, o não dito também fala muito alto. 
    Com o tempo aprendi a me interpretar com muito mais cautela e sensibilidade. De tanto falarem que somos loucas, às vezes começamos a acreditar. Isso não passa de um discurso de pessoas que não sabem ler o não dito. Com essa e outras experiências que vivi, aprendi a confiar em mim mesma e a ouvir o som que sai de mim. Nem sempre temos razão, mas na maioria das vezes sim. Pelo sim ou pelo não, aprendi a desenvolver meu tino para as coisas que acontecem a minha volta. Quando o alerta soa, pode saber, tem alguma verdade escondida. Além do mais, minha intuição não fala, ela grita. 

[Texto publicado na coluna Crônicas editoriais da Caravana Grupo Editorial em Junho de 2023]

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